O que você sabe sobre os novos casos de febre maculosa?

O aumento do número de casos de febre maculosa no Brasil nas últimas semanas gerou preocupação em toda a população a respeito da doença. O que é? Quais são os sintomas? Como ocorre a sua transmissão? foram algumas das perguntas mais feitas no site de busca Google, segundo a ferramenta de pesquisa Google Trends.

A febre maculosa é transmitida pela picada do carrapato infectado pela bactéria do gênero Rickettsia  © Google Imagens.

Afinal, o que é febre maculosa?

A febre maculosa, também conhecida como doença do carrapato, é uma zoonose, o que significa que ela é uma doença infecciosa transmitida pelos animais aos seres humanos. As transmissões de zoonoses podem ocorrer através de mordidas, arranhões, contaminação de água ou comida, contato com as fezes ou carcaças dos animais e principalmente durante o procedimento de abate.

A doença leva esse nome porque ela causa um quadro febril no paciente e também por poder provocar o surgimento de manchas avermelhadas na pele, conhecidas como máculas.

Manchas avermelhadas na pele causadas pela febre maculosa em (1) pessoa branca - Google Imagens e (2) pessoa negra - Angerami et al. (2021).

Apesar da zoonose também estar presente na África, Ásia, Europa e Oceania, a sua versão mais grave ocorre no continente americano. No Brasil, foram noticiados até o momento: 11 casos com quatro óbitos (MG)oito casos com dois óbitos (RJ); 18 casos e nenhum óbito (SC); 17 casos com oito óbitos (SP). Em todos esses casos, a transmissão ocorreu através da picada do carrapato do gênero Amblyomma infectado pela bactéria do gênero Rickettsia.

Como se dá a transmissão da doença?

A doença é transmitida aos seres humanos a partir da picada do carrapato infectado pela bactéria do gênero Rickettsia, e para isso, o artrópode precisa permanecer aderido à pele do hospedeiro, no caso, o ser humano. Além disso, vale ressaltar que se a pele da pessoa possuir algum tipo de lesão antes mesmo do contato com o carrapato, o contágio pode ocorrer no momento em que esse animal seja retirado da pele, caso ele venha a ser esmagado.

No Brasil, as únicas ocorrências já confirmadas de transmissão da zoonose aos seres humanos foram causadas pelas bactérias Rickettsia rickettisiiRickettsia parkeri cepa da Mata Atlântica.

1. Rickettsia rickettisii

A febre maculosa causada por essa bactéria é a mais conhecida popularmente, visto a grande relevância que possui no Brasil. Além de ser o principal agente etimológico no território americano, é a responsável por apresentar os quadros clínicos mais graves da doença, que podem evoluir para o óbito do paciente.

Ao contrário de algumas zoonoses, ela não possui um único vetor, sendo assim, dependendo da região em que a pessoa se encontra, ela pode ser infectada pelo carrapato da espécie Amblyomma aureolatum, conhecido popularmente como carrapato amarelo do cão, cujo habitat é predominantemente na região Metropolitana de São Paulo. E no restante da região sudeste ela pode ser transmitida pelo carrapato-estrela (Amblyomma sculptum).

2. Rickettsia parkeri cepa da Mata Atlântica

Já a febre maculosa causada por essa bactéria é transmitida principalmente pelo carrapato Amblyomma ovale, encontrado principalmente na região litorânea de São Paulo, Bahia e Santa Catarina. E a contrário da citada anteriormente (R. rickettisii), a R. parkeri apresenta manifestações mais brandas da doença e até o momento, segundo o Ministério da Saúde, não houve nenhum relato de óbito de pacientes.

E como os carrapatos são infectados pela bactéria?

A infecção pode ocorrer a partir da da transmissão vertical (transovariana) sendo transmitida do animal infectado para outras gerações -ovos e larvas-; transmissão estádio-estádio (transestadial) que é quando ocorre a transmissão da bactéria presente nas larvas para as fases de ninfa e adulto; transmissão através da cópula. Uma vez infectados, os carrapatos permanecem assim durante toda a sua vida.

Como saber se a pessoa está com febre maculosa? Quais são os sintomas?

Um dos maiores problemas do diagnóstico da doença é a sua inespecificidade na fase inicial da febre maculosa, por isso, é frequentemente confundida com outras enfermidades mais frequentes como dengue, leptospirose, viroses respiratórias e várias outras que possuem quadros clínicos semelhantes.

E foi exatamente isso aconteceu com uma das vítimas da doença, a qual teve o seu diagnóstico tratado como um caso de suspeita de dengue.  

A doença pode ser detectada a partir de exames como: hemograma, sorológicos, cultura de tecido ou sangue, PCR e imuno-histoquímicos. E o seu período de incubação (período da infecção até a manifestação dos primeiros sintomas) é o mesmo, variando de 2 a 14 dias, contudo os sintomas podem variar de acordo com o tipo de bactéria.

1. Rickettsia rickettisii

Um dos primeiros sintomas é a febre alta, de início súbito e associada à dores intensas dores de cabeça, além de fraquezas, náuseas e vômitos. O sintoma mais característico da doença é justamente as manchas avermelhadas pelo corpo, que costumam aparecer a partir do terceiro ou quinto dia após o início dos primeiros sintomas, porém, nem todos irão apresentar isso.

2. Rickettsia parkeri cepa da Mata Atlântica

A febre maculosa causada pela bactéria R. parkeri possui quadros clínicos mais brandos, podendo até em alguns casos serem assintomáticos.

Contudo, independente do tipo de bactéria causadora da doença é extremamente importante logo nos primeiros sintomas ir ao médico, alertar caso tenha frequentado algum local rural ou arborizado dias antes ou até mesmo se o seu cão está com carrapatos. Pois, quanto mais cedo a doença é identificada e tratada, maiores são as chances de reverter o quadro clínico.

Quais são as formas de tratamento disponíveis?

Apesar de já existir vacina contra a febre maculosa, ela não costuma ser a mais recomendada, visto que a sua proteção é apenas parcial. Entretanto, pesquisadores da USP vem estudando nos últimos anos a criação de uma nova.

Porém, enquanto a vacina ainda está sendo desenvolvida, a forma mais comum de tratamento continua sendo a partir da utilização de antibiótico, receitado pelo médico. 

E como podemos nos prevenir?

1. Medidas de proteção individuais

Uma das formas de prevenção é utilizar a meia em cima da calça © Filippa Hägg.

  • Evitar pele exposta

Utilizar meias grossas e compridas, macacão com fechamento em zíper ou calças compridas enfiadas nas meias (ou com a barra da calça fixada por fita adesiva), camisa de mangas compridas (de preferência de cores claras) e botas de cano alto.

  • Uso de repelentes

2. Medidas de proteção ambientais

Uma das formas de prevenção é a limpeza de terrenos baldios © Prefeitura de Apucarana - PR.

    • Limpeza de terrenos baldios, parques, praças gramadas e quintais;
    • Promover uma barreira física entre as áreas gramadas ou arborizadas e as áreas de circulação de pessoas;
    • Cuidar e manter os limites das propriedades públicas e privadas livres de animais silvestres, de produção e domésticos sem seus tutores, mediante de cerca ou outros meios que previnam uma possível invasão.

    Comentários

    Postagens mais visitadas deste blog

    Por que o Agronegócio e o Meio Ambiente NÃO andam juntos?

    Do que se trata a Greve Global pelo Clima (Friday For Future)?